quinta-feira, 22 de novembro de 2012

de como deixei de acreditar no Pai Natal


Devia ter uns dois anos e estava numa festa com o meu pai. Ainda vivíamos em Paris. Era Natal, pelo menos acho que devia ser porque de repente apareceu alguém vestido de Pai Natal, com a indumentária completa, à qual não faltava sequer um martelo (sim, eu sei que não faz parte do figurino, mas este trazia um). O tipo estava a brincar, claro, e se calhar o martelo era daqueles de plástico que não aleijam ninguém, mas até hoje não esqueço o susto. Como desatasse a chorar em pânico não tiveram outro remédio se não revelar-me o carácter fictício de tal personagem... E de facto, nunca mais acreditei no dito... 

Diz-me uma amiga jornalista - também ela há muito sem poiso onde labutar - que admira a minha 'coragem' (a expressão é dela) de dizer o que me dá na real telha (a expressão é minha). Faço-a notar que não tenho emprego que possa perder. "Isso não invalida a coragem, pode é impedir a possibilidade de um emprego", responde-me ela. Donde recordo este episódio da longinqua infância. Para mim, neste contexto, não há nem haverá emprego. Sei-o há muito e há muito que já deixei de lamentá-lo ou de me lamentar por isso. Resta mudar o contexto, já que eu estou a ficar entradota para mudar. E quero, claro, que estes gajos vão todos pastar. A verdade é a matéria-prima do jornalista. Se não for, então não sou/serei jornalista.